A Maldição do Autor
Eu persigo minhas palavras em contos, crônicas e romances. Procuro em minha musa a originalidade extinta. Sou um desgraçado autor, no passado colhi os louros de minha poesia, hoje somente frutas podres. A criatividade é um fantasma perdido entre idéias confusas, meus trabalhos são tão vazios, que tenho pena de minhas repetitivas palavras.
Outra noite sonhei, lembro-me vagamente. Mas apenas de meus pesadelos eu me recordo bem, pesadelos tão loucos e surreais que perturbam ao serem contados. Como o que sonhei há tempos, eu deitado em uma cama de corpos putrefatos, gélidos e enrijecidos. Lutava para me livrar do pesadelo, mas era tragado até que enfim em desespero acordava.
Cansado, tentei desistir, me libertar da solidão, pois sem filhos ou parentes vivos, eu era sozinho no mundo. Uma garrafa de wiske ao lado e algumas pílulas loucas em minha companhia. Tomei com fervor, esperei e adormeci. Meus olhos estavam quase a se fechar, entre visões turvas e enegrecidas, uma sombra entorpecida apareceu. A morte em vulto negro, mãos pálidas e olhos vazios que me fitavam a alma. Seus lábios tocavam meus ouvidos com palavras débeis que não podia compreender. Meu corpo caia, inerte e minha mente leve pairava sem medo. Então quase morto pude entender suas palavras, ouvi uma voz rouca e feminina, possuía milhões de outras mortas vozes;
- Tolo autor és tu! Não sabes fazer poesia da vida...
- Tolo eu? Tolo é quem ainda vive em vida tão sem graça...
- Julga-lo não vou, meu trabalho é leva-lo entre as barcas da morte, mas...
- Mas o que? Porque vacila assim, tanto te esperei...
- A vida, embora para tu sejas tão sem graça, há muito humor e ironia. Uma divina comédia de atores tolos e insensatos. Entretanto creio que a morte alheia lhe possa fornecer alegrias, então use a sua pena a favor de minha sina, que seja agora tua minha maldição...
Despertei entre luzes fortes e altas vozes, agitações desnecessárias. Meu corpo embora fraco tentava viver e os anjos da vida me trouxeram da morte. Enfim, vivo porem confuso, entre delírios e a dura realidade de uma tentativa frustrada de suicídio. Retornando a minha infeliz rotina, senti a necessidade de produzir textos, contos e crônicas com tal sede e intento nunca visto antes. Nomes personagens e lugares surgiam em minhas mente, algo puro e original nasceu de minhas letras.
Então em jornais pude perceber o quão pesadas e graves eram as palavras da morte. Meus personagens de fato eram pessoas reais que faleciam exatamente como em meus contos. No inicio pensei, que coincidência tola, mas logo percebi o peso de minhas mãos e o sangue inocente me banhar a culpa tardia.
Em minha confusão mental, percebi a arma mortal. Matar sem piedade aqueles que nos causam dor, cujo a existência é tão insignificante e pesarosa, causando dor e sofrimento aos inocentes. Políticos, pedófilos, assassinos, aliciadores, todos caíram pela minha pena, sem remorso, eu agora assassino de assassinos. Dura e divertida sina da morte é agora minha sorte, em controlar o destino de quem não merece viver. Cuidado, pois o próximo poderá ser você.

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